"As ilusões perdidas", romance de H. de Balzac publicado na primeira metade do século XIX, revela a dura realidade dos grandes centros da Europa daquela época. O romance tem por objetivo demonstrar a realidade em uma época em que predominava uma literatura romântica. Até meados do século XIX, a literatura europeia era dominada por um estilo de composição tido como romântico, que buscava idealizar a realidade, ou seja, adequá-la aos ideais buscados pela sociedade da época.
Resenha de As Ilusões Perdidas
“Em Paris, os conjuntos das construções e das atividades urbanas chamam logo a atenção: o luxo das lojas, a altura das casas, a afluência das carruagens, os permanentes contrastes que apresentam o extremo luxo e a extrema miséria. [...] Para o jovem poeta habituado a encontrar eco para cada um dos seus sentimentos, um confidente para todas as suas ideias, uma alma para compartilhar as suas menores sensações, Paris ia ser um espantoso deserto”.
O autor não poupa a imprensa da época, mostrando que os jornais da cidade, longe de serem meios de propagação de informações e discussões, acabavam sendo utilizados como um negócio. Nas palavras de um dos personagens do romance:
“O jornal, em vez de ser um sacerdócio, tornou-se um meio para os partidos, e de um meio passou a ser um negócio. Não tem fé nem lei. Todo jornal é uma loja onde se vendem ao público palavras da cor que deseja”.
Na capital, ele encontra uma sociedade mais preocupada com títulos e vestuários do que com talento. Um lugar onde, sem a ajuda de poderosos, nada poderia ser conquistado. O fato de Luciano ser filho de um farmacêutico fez com que todas as portas se fechassem para ele. É importante lembrar que a França da época passava por um período de restauração da monarquia, ou seja, após a queda de Napoleão, a monarquia voltou a reinar no país e os ideais monárquicos foram restaurados.
Após a queda inicial, Luciano foi obrigado a trabalhar em um dos muitos jornais de Paris. A cidade, ao longo do romance, vai corrompendo o jovem poeta, que acaba abrindo mão de seus ideais, empregando a sua pena conforme a possibilidade de lucro. Um fato que ilustra essa corrupção se dá nas críticas aos espetáculos escritas pelo jornal no qual ele trabalha. O jornal ganha uma participação no lucro dos espetáculos, fato que leva os jornalistas a escreverem críticas positivas; mas, quando os donos dos teatros deixam de pagá-los, os jornalistas escrevem críticas condenando o espetáculo, muitas vezes já haviam escrito críticas favoráveis — problema facilmente resolvido com a utilização de um pseudônimo.
O dinheiro ganhado por Luciano no jornal é rapidamente torrado em festas e mulheres, fazendo com que Luciano fosse obrigado a pedir ajuda financeira ao seu cunhado, que ficou na província. Chegando, em alguns momentos, a falsificar a assinatura do cunhado no intuito de conseguir empréstimos. Fato que, posteriormente, leva o cunhado à falência.
O cunhado do poeta pode ser considerado sua antítese. Enquanto Luciano vive em Paris, seu cunhado se empenha, através de um trabalho árduo e honesto, na descoberta de uma pasta que facilitaria a confecção de livros, barateando-os.
O romance de Balzac pode ser considerado uma das primeiras obras de cunho realista escritas na Europa, sendo uma crítica tanto à aristocracia quanto à burguesia: sendo a primeira criticada por sua hierarquização baseada em títulos, onde o mérito e o talento ficam relegados a um segundo plano; e a burguesia, que busca de forma desenfreada o lucro, tendo como motivo e finalidade de sua existência o acúmulo de capital.
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