O romance Um Jogador tem por temática o vício adquirido no jogo de azar. A história se desenrola em uma cidade balneária da Prússia — antiga Alemanha antes da unificação — por volta do ano de 1866. Naquela época, o jogo de azar era proibido na maior parte do continente europeu, sendo permitido apenas em algumas cidades prussianas. Com isso, indivíduos de diversos lugares dirigiam-se aos cassinos dessas cidades para tentar a sorte na roleta.
Na trama, os personagens do romance encontram-se hospedados em um dos muitos hotéis da cidade, desfrutando de momentos de lazer nos pontos turísticos do balneário enquanto esperam um telegrama anunciando a morte de uma parente rica. A família — composta por um general, seu filho e sua enteada — passa por graves problemas financeiros, vislumbrando na morte da parenta rica a salvação de seus problemas financeiros.
O enredo do romance gira em torno da paixão avassaladora que o personagem Alexei, contratado como tutor do filho do general, nutre por Pauline, enteada do general. O personagem Alexei é retratado como um jovem de vinte e cinco anos que exerce a profissão de professor do filho do general. É importante salientar que, naquela época, um professor particular era visto como membro da criadagem, sem possuir privilégios especiais dentro das famílias; ou seja, um mero subalterno.
A tia rica do general é retratada como uma senhora de mais de setenta anos que, apesar de estar entravada em uma cadeira de rodas, mostra-se extremamente ativa e lúcida. Ela possui uma personalidade forte e autoritária, julgando-se conhecedora de todos os mistérios da vida. Ela não demonstra respeito pelo general, vendo-o como um parasita, indigno de respeito e consideração.
Para a surpresa geral, em vez de chegar um telegrama anunciando a sua morte, a mesma, em carne e osso, chega ao balneário, indo diretamente para as mesas de jogo perder a sua fortuna. É interessante notar o poder que o jogo tem sobre algumas pessoas, inclusive pessoas que aparentam estar imunes a seus artifícios, como a tia rica. Após ganhar nas primeiras rodadas, ela se acha dona da própria sorte, continuando confiante mesmo depois de seguidas derrotas. Talvez a possibilidade de vitória — ou de reverter uma derrota a apenas um passo — acorrente o indivíduo à mesa de jogo, sempre acreditando que sua sorte mudará.
No início do romance, apesar de estarem em um cassino, a possibilidade de mudança em suas vidas estava atrelada a um fator natural: a morte da tia rica. Todos apostaram nesse desfecho, como um jogador que aguarda a bolinha cair no número escolhido. Após a chegada da tia, o fator natural deixa de ser decisivo em detrimento do fator jogo de azar. Com isso, o jogo de azar passa a possuir papel decisivo para a sorte de todos, devido ao fato de que, se a tia perder tudo, todos perdem junto com ela.
Talvez um jogador não seja diferente de um cidadão que não jogue, pois ambos apostam o seu futuro em acontecimentos que estão longe do seu controle. Muitas vezes nos apegamos à possibilidade de possíveis acontecimentos de forma cega e viciante, como um jogador que se apega à mesa de jogo.
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