O Sonho de um Homem Ridículo é uma narrativa fantástica publicada por Dostoiévski em 1877, em uma revista mantida pelo autor. A história pode ser considerada um conto devido ao seu tamanho, de cerca de trinta páginas. Na edição da Editora 34, foi publicada juntamente com o conto "A Dócil", sendo ambas narrativas que envolvem o tema do suicídio.
Resenha de O sonho de um Homem Ridículo, de Fiodor Dostoievski
Apesar de tratar de um tema bastante real, a narrativa é considerada fantástica pois, após um sonho extremamente vívido, porém irreal, o personagem decide mudar o rumo de sua vida.
A história é narrada em primeira pessoa por um homem que não só é tido como ridículo por aqueles que o conhecem, mas que também se considera ridículo. O fato de rirem dele e fazerem de seus hábitos motivos de chacota apenas confirma uma visão extremamente depreciativa que ele tem de si mesmo. Contudo, tudo muda após ele chegar ao fundo do poço e decidir cometer suicídio.
O desejo de cometer suicídio surge após a constatação de que ele não era nada e que tudo no mundo também não era nada; ou seja, para ele tudo era indiferente. Com isso, não havia razão para continuar vivo, haja vista que nada fazia sentido ou valia a pena.
Antes de cometer o suicídio, ele adormece em sua poltrona, tendo um sonho no qual ele, após cometer suicídio, é carregado por um ser até um outro planeta Terra. Nesse planeta Terra, os seres humanos são perfeitos e vivem uma vida livre de doenças e crimes. Nessa Terra, todos trabalham pelo bem comum e se amam, sem haver espaço para qualquer tipo de distinção social. Nesse lugar, em uma dimensão paralela à nossa, o pecado original — ou seja, o pecado de Adão e Eva — não ocorreu. Com isso, os seres humanos não tiveram a sua perfeição corrompida.
Apesar de se maravilhar com esse mundo perfeito, o personagem, longe de compartilhar essa perfeição, questiona o fato de eles não possuírem a nossa ciência. O fato de não serem contaminados com o pecado e serem plenamente felizes fez com que não sentissem a necessidade do conhecimento que move a nossa humanidade, além do fato de não terem a necessidade de transformar a vida deles. Eles, vivendo uma vida perfeita, não tinham a necessidade de criar leis para os guiar até um mundo melhor.
Também a relação deles com a natureza é totalmente diferente da relação que mantemos com ela. Enquanto buscamos dominá-la e transformá-la, eles buscavam um relacionamento orgânico com a natureza.
Sendo imperfeito, o personagem sentiu a necessidade de tentar impressioná-los com as maravilhas do nosso mundo e, com isso, acabou pervertendo-os.
Ele lhes ensinou a mentira, a volúpia, o ciúme, entre outros. Com isso, eles começaram a lutar entre si, gerando um mundo violento, tal como o nosso. Conforme o caos foi tomando esse planeta, eles começaram a criar leis para tentar contornar esse mal. Com isso, surgiu a justiça e a organização social segundo uma série de regras estabelecidas pelos governos. Eles se esqueceram de que já foram inocentes um dia e começaram a buscar, através da ciência, um mundo perfeito. A busca por esse mundo melhor através do conhecimento esbarrou nos desejos individuais de cada um, e guerras foram travadas em nome de um mundo melhor.
Ele tentou exortá-los a retornarem para aquela essência perdida no passado — essência essa que não se conquista com a ciência criada pelo homem —, mas eles não acreditavam mais nessa essência e o ignoraram.
O Homem Ridículo acordou do sonho transformado, com a convicção de que as pessoas podem ser felizes na Terra, pois o mal não é o estágio inicial do homem; a humanidade nasceu da perfeição e tem, na sua origem, o amor como principal meta de vida.
Com isso, ele passou a desconfiar da capacidade de a ciência transformar o mundo, pois não somos fruto de uma evolução como ele acreditava antes. Ou seja, não estamos evoluindo de um estágio primitivo para um estágio superior através da ciência, mas sim partimos de um estágio superior para um inferior devido ao fato de depositarmos as nossas esperanças no conhecimento do homem, esquecendo nossa origem divina e perfeita.



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