Goethe é considerado um dos maiores nomes da literatura universal. Seus livros, apesar de terem mais de duzentos anos, tratam de assuntos e impulsionam reflexões extremamente atuais.
Ainda em vida, Goethe pôde usufruir do reconhecimento e fama proporcionados pelos seus livros, em especial o livro "Os Sofrimentos do Jovem Werther", que chegou a ditar moda na Europa. Seu livro mais famoso, "Fausto", foi publicado após seus sessenta anos, mostrando que, muitas vezes, o melhor está guardado para a velhice e não o contrário.
Nascido em território prussiano, atual Alemanha, licenciou-se em Direito, mas nunca exerceu a profissão. O sucesso de seu romance de estreia, escrito aos 25 anos, proporcionou uma continuidade na carreira de escritor. Publicado pela primeira vez em 1774, o romance tem por tema a paixão avassaladora do jovem Werther por uma mulher comprometida.
Resenha de Os sofrimentos do jovem Werther de Goethe
Werther é um jovem de uma família com posses, que viaja pelo interior da Alemanha levando uma vida livre de compromissos. Na primeira parte do romance, temos contato com a história através das cartas de Werther endereçadas ao seu melhor amigo e confidente. Apesar de não termos acesso às respostas, fica evidente que o amigo, Guilherme, responde a elas aconselhando Werther; portanto, as cartas de Werther são, em parte, influenciadas pelas respostas do seu amigo.
Werther aparenta ser um sujeito culto e sensível, podendo sua sensibilidade ser verificada nas divagações com respeito à paisagem natural do local, sendo essas divagações repletas de sensibilidade:
"Não sei se algumas fadas ou gênios, espíritos de ilusão que vagueiam neste país, ou se é a imaginação celeste que, havendo se apoderado do meu coração, dá um aspecto de paraíso a tudo que me rodeia".
Além da paixão de Werther por Carlota, em suas cartas ele discute temas relacionados à existência humana:
"Quando eu considero os estreitos limites em que se acham encerradas as faculdades ativas e especulativas do homem (...) então Guilherme, emudeço. Entro em mim mesmo e aí encontro um mundo!".
Apesar de ser culto e sensível, a falta de propósito ou ocupação faz com que Werther leve uma vida de ociosidade:
"Eu trato o meu coração como uma criança doente; tudo o que deseja lhe concedo".
Werther, livre de preocupações mundanas tais como a necessidade de sustentar-se ou problemas de saúde, passa os seus dias contemplando a natureza e lendo Homero. Contudo, a harmonia de sua rotina é quebrada após conhecer Carlota.
"...desde aquele momento o sol, a lua, as estrelas, podem fazer tranquilamente as suas revoluções; eu não sei se é dia ou noite, todo o universo desaparece aos meus olhos".
A paixão devastadora que Werther desenvolve por Carlota faz com que ele perca seu rumo. Daquele momento em diante, nada mais faz sentido. Todo o prazer que antes Werther sentia na sua rotina deixa de fazer sentido, tornando-se Carlota a sua única razão de viver. Nas cartas direcionadas ao seu amigo, fica evidente essa transformação que se opera em Werther, porquanto todos os assuntos que antes Werther prazerosamente discutia com seu amigo vão sendo gradativamente substituídos pela necessidade do mesmo de louvar Carlota.
Esse amor se mostra impossível de ser concretizado, porquanto Carlota está comprometida com outro rapaz. Em nenhum momento da história surge uma brecha para que esse amor possa ser consumado; as convenções sociais da época impediam qualquer tipo de aproximação dos dois. Com isso, Werther vai definhando aos poucos, sucumbindo diante do vazio existencial que toma conta do seu ser. Sua vida deixa de ter sentido. Tudo o que antes o encantava perde gradativamente o seu encanto.
"Deus sabe quantas vezes eu me vou deitar com o desejo — que digo eu? — a esperança de não me levantar mais; e pela manhã eu abro os olhos, vejo o sol e me considero miserável".
A primeira parte da história nos é apresentada através das cartas de Werther; com isso, só temos acesso ao seu ponto de vista. Nos mantemos, durante a primeira parte, no escuro com respeito aos sentimentos de Carlota e dos demais personagens. Na segunda parte da história, surge um narrador em terceira pessoa que nos propicia, ora como espectador dos acontecimentos, ora como observador onipresente, uma visão mais abrangente da trama.
Nessa parte do livro, passamos a conhecer melhor Carlota, sem que a análise da personagem seja filtrada pela visão de Werther. Carlota demonstra possuir um caráter correto e nivelado com a ideia de decência da época; com isso, apesar de nutrir sentimentos por Werther, de forma alguma permite uma aproximação do mesmo.
Nessa segunda parte fica claro, apesar de não haver nenhum tipo de aproximação amorosa, que a situação está se tornando insustentável. O marido de Carlota, que na visão de Werther parecia não nutrir nenhum tipo de ciúmes, se mostra extremamente ciumento devido às frequentes visitas de Werther, tornando essas visitas indesejadas. A separação se torna iminente, partindo de Carlota o desejo de tornar o mais raras possíveis as visitas. Com isso, ao se separar de Carlota, Werther se separa do único fio que o mantém conectado a este mundo.
A leitura do romance transcorre de forma tranquila. A edição de bolso da editora L&PM combina extremamente com o conteúdo do livro. O fato de a maior parte da história ser contada através de cartas não a torna cansativa ou chata, porquanto nos sentimos íntimos do personagem, partilhando de seus sofrimentos como se as cartas tivessem sido endereçadas a nós.

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