sábado, 5 de novembro de 2016

Arsenal de Família, de Paul Theroux

Capa do livro Arsenal de Família, de Paul Theroux

Romance de Paul Theroux, "Arsenal de Família" tem por tema o terrorismo urbano, sendo o tema abordado através dos diversos pontos de vista de personagens com visões de mundo distintas, tendo a cidade de Londres o papel de teia que faz com que suas vidas se cruzem, em um urbano cada vez mais desenvolvido, fruto de uma hierarquização social baseada no poder de consumo.

Resenha de Arsenal de Família


O romance, publicado originalmente em 1974, retrata uma metrópole europeia que vive um crescente desenvolvimento capitalista aliado a um aumento das desigualdades sociais, sendo um lugar de contradições. A crise econômica pela qual o país atravessa gera um sentimento de desconfiança na população, que vê cada vez mais intensificadas as desigualdades sociais. Nesse cenário, surgem grupos dispostos a modificar, através do caos, a lógica dominante.

Agindo à margem da sociedade através de roubos e ataques a bomba, buscam através do caos modificar as estruturas de poder, levando a população a sair do seu estado de sonolência e enxergar as contradições presentes no mundo moderno. Contudo, esse grupo não se apresenta homogêneo, sendo composto por diferentes pessoas movidas por diferentes ideias. Alguns membros desse grupo se intitulam anarquistas, outros marxistas; no entanto, o autor não entra no mérito dessas ideologias, mostrando personagens com conhecimentos superficiais sobre esses temas.

Dentre os personagens, dois se destacam, sendo eles: Hood e Gawber. Hood, americano, fixa residência no subúrbio de Londres após abandonar um cargo no Departamento de Estado americano. É um personagem misterioso, não sendo possível compreender aonde realmente ele quer chegar ao se filiar ao grupo terrorista. Ao juntar-se a esse grupo, ele se oferece para chefiar uma ofensiva do grupo em Londres. Hood não suporta ver a exploração sofrida pelo povo; ao avistar um senhor e seu pequeno filho recolhendo papéis na rua, sente-se compelido a livrá-los dessa situação humilhante, apesar de não conhecê-los:

"Aquilo pareceu a Hood um imerecido castigo... desejando poder livrá-los de um trabalho que ele próprio não faria."

Sendo impulsivo e destemido, não aparenta ter medo de nada, pondo-se em perigo sem buscar preservar sua vida. Em determinado trecho, Hood faz menção ao Vietnã como estopim para abandonar sua antiga vida. Sendo um personagem misterioso, os motivos que o movem como um carro desgovernado não ficam explícitos no romance.

Gawber apresenta-se como antítese de Hood, sendo pequeno, frágil e metódico, proveniente da antiga classe média inglesa. Possui um emprego de contador e uma casa em um antigo bairro londrino. Ao contrário de Hood, Gawber vive em uma perpétua rotina do trabalho para a casa. Contudo, apesar de sua rotina e aparência, ele esconde um sentimento de revolta para com o rumo que seu país está tomando. Enquanto Hood detesta o sistema pelo fato de o mesmo ter gerado constantes desigualdades sociais, Gawber detesta o sistema pelo fato de ele ter gerado uma crescente onda de migração de populações de países periféricos para Londres — populações essas que foram habitar em bairros tradicionais, como o de Gawber, trazendo consigo suas culturas e modificando a paisagem desses bairros.

Como contador, ele prevê um colapso econômico iminente, colapso esse que trará caos e instabilidade ao país:

"Ele vira os algarismos e sentira fumaça; a economia estava precisando de uma completa reestruturação."

Gawber chega a desejar esse colapso, porquanto não suporta ver as modificações ocorridas pela migração em seu país, sendo que, para ele, esse colapso provocará a saída dessas populações em busca de outro lugar para viver:

"...tudo isso fez com que ele desejasse um holocausto purificador — uma crise visível..."

Em uma Londres repleta de contradições e conflitos, a população vive suas vidas tentando ignorar essas tensões. As frases pichadas em muros, apesar de fazerem alusão aos times de futebol do país, trazem à tona a instabilidade desse urbano que tenta equilibrar uma ordem e hierarquização social com o caos gerado pelas contradições do sistema capitalista. A frase "Arsenal Domina" simboliza, apesar das diversas visões de mundo da população londrina, um movimento de caos que cada vez mais se instala na metrópole.

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