sábado, 28 de outubro de 2017

O estrangulador, de Sidney Sheldon



Capa do livro O estrangulador de Sidney Sheldon






A novela "O Estrangulador", ambientada em Londres, gira em torno de um assassino em série que tem por fito estrangular mulheres em noites chuvosas. A polícia inglesa tem por únicas informações, acerca do assassino em série, o fato de ele sempre atacar as suas vítimas em noites chuvosas, estrangulando-as com uma corda.

O sargento Sekio assume o caso, tendo a missão de rastrear o assassino em série, que até aquele momento não havia deixado nenhuma pista referente à sua identidade.

Fotografia de uma cidade em dia chuvoso


O contato do sargento Sekio com Akiko, uma moça que sobreviveu ao ataque, faz com que os dois se apaixonem. Paralelamente, o assassino decide procurá-la, pois ela viu o seu rosto. Com isso, temos o coração da trama policial de Sheldon.

Análise de O estrangulador


Diferente de muitos romances de mistério policial, nos quais não sabemos quem é o assassino, neste logo nas primeiras páginas o conhecemos e ainda descobrimos o porquê de ele matar as suas vítimas em noites chuvosas. Com isso, a emoção da novela fica pelo embate entre ele e o sargento Sekio, que vai aos poucos montando as peças do quebra-cabeça das motivações do assassino.

No geral, a novela é uma boa história policial, sendo uma leitura leve e descompromissada, podendo ser realizada em um único dia. O fato de não ter lapidado os personagens, bem como as suas motivações, faz com que a novela seja apenas regular, porém um bom passatempo.



quinta-feira, 26 de outubro de 2017

A hora da estrela, de Clarice Lispector


Capa do livro A hora da estrela de Clarice Lispector




Publicado em 1977, A Hora da Estrela é considerado um dos grandes clássicos da literatura brasileira. A história tem duas camadas; na primeira ocorre uma participação ativa do escritor. Ele a todo o momento interrompe a narrativa para conversar com o leitor.

O autor busca justificar o fato de estar contando essa história. Ele afirma, em determinado trecho, que o livro não será lido pelos pobres, pois eles têm fome e quem tem fome não tem tempo para a literatura. A classe média é o leitor potencial e esperado do romance; com isso, o autor busca justificar o motivo de ter a necessidade quase que física de contar esses acontecimentos que fogem do seu cotidiano e do cotidiano daqueles que irão ler.

Enredo de A hora da estrela 

O livro narra a vida de Macabéa, uma imigrante nordestina que deixa o interior de Alagoas e se muda para o Rio de Janeiro.
Fotografia de Clarisse Lispector


Temos contato com a situação de exclusão vivenciada por Macabéa, pois ela faz parte de uma massa de excluídos devido a sua raça/etnia ou devido ao seu baixo capital cultural. Com isso, ela vive uma vida à margem da sociedade em uma das maiores metrópoles brasileiras.

Ela possui uma instrução precária. A sua principal fonte de cultura é um programa de rádio que ela ocasionalmente escuta. Macabéa trabalha em um escritório como datilógrafa, apesar de ter tido uma alfabetização precarizada. O salário dela, que mal dá para sobreviver, faz com que ela viva uma vida de privações, tanto alimentares quanto de lazer.

O fato de ter sido criada pela sua tia — criação fria e destituída de carinho — faz com que ela tenha uma autoestima baixa e dificuldade para sonhar ou ter esperança no futuro. O relacionamento com Olímpico, um metalúrgico paraibano, surge como possibilidade de a protagonista romper o domo que a cerca e se tornar capaz de se relacionar socialmente, mas ela não consegue ultrapassar essa barreira imposta por uma vida de privações.

A ideia de contar essa história parte de um encontro, em uma das ruas do Rio de Janeiro, entre o escritor e uma imigrante nordestina. No breve momento em que ele a vislumbrou, o escritor se sentiu capaz de captar a essência dela e, após esse contato, passou a desenvolver uma necessidade quase física de transportar esse encontro para as páginas de um livro, contando uma história sem nenhum tipo de preparo ou esquematização; simplesmente a história surgia na sua mente, sem ele ter o poder de mudar o destino da personagem.

Fica o questionamento do porquê de ele sentir a necessidade de contar esse relato. Talvez Macabéa seja a materialização de um urbano que foge do controle e extrapola as relações humanas. Em determinado trecho, ele afirma que a cidade é uma máquina e seus habitantes são apenas parafusos.

Imagem do filme A hora da estrela


O consumo em massa, a divisão do trabalho no modo de produção capitalista e o enfraquecimento dos laços afetivos dão pistas da alienação das pessoas que habitam em um grande centro urbano como o Rio de Janeiro.

Ele, enquanto artista, possui sensibilidade e uma aguçada apreensão da realidade, e sente a necessidade de externalizar seus sentimentos referentes à vida na modernidade. Macabéa surge como objeto de construção de sua obra, pois ela é a materialização de um urbano repleto de contradições. Esse urbano é fruto da proximidade espacial das pessoas em determinado território; contudo, apesar de atrair cada vez mais as pessoas, é excludente e impessoal, permanecendo muitos habitantes à margem do social, tal como Macabéa, uma protagonista improvável para um romance escrito para a classe média.


segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Sonhos de Bunker Hill, de John Fante


Capa do livro Sonhos de Bunker Hill de John Fante


O romance tem por protagonista Arturo Bandini, um jovem escritor que deixa o Colorado para ir morar em Los Angeles. Apesar de o livro ter sido escrito nos anos oitenta, é ambientado nos anos trinta, época de ouro do cinema americano.

Ao chegar em Los Angeles, Bandini, alter ego de Fante, vai morar no subúrbio, no bairro Bunker Hill. Após ficar um tempo trabalhando como garçom, tem um dos seus contos publicado em uma revista.

Fotografia de John Fante

Hollywood engole Bandini


A boa aceitação de seu conto fez com que algumas portas se abrissem para Bandini, que deixa o emprego de garçom para trabalhar em Hollywood como roteirista. Com isso, Bandini rapidamente ascende na pirâmide social, deixando para trás o subúrbio e as dificuldades financeiras. Contudo, a trajetória de Bandini em Hollywood se mostra tortuosa, envolvendo-se tanto com bebidas quanto com mulheres.

Em determinado trecho, Bandini afirma ter a impressão de que as pessoas em Hollywood aparentam ser apenas nomes, ou seja, como se não fossem reais. Aliás, tudo ali parece ser irreal e superficial, fato que fez com que Bandini se sentisse deslocado nesse ambiente — ao contrário de Bunker Hill, onde ele era capaz de ordenar seus pensamentos e se sentir seguro e vivo.

Com isso, vemos que a periferia da cidade, sendo o lugar onde o cotidiano de boa parte da população se dá, tem uma materialidade maior do que Hollywood, lugar de entretenimento e espetáculo, que se mostra frio e impessoal. Conforme a história vai se desenrolando, cada vez mais Bandini vai se perdendo. Quando deixou o Colorado, ele buscava em Los Angeles e na literatura uma forma de sentido para a sua vida; contudo, ele não foi capaz de encontrar esse sentido ali.

Sua formação católica e, consequentemente, dogmática permanece em constante embate com a sua formação artística, de caráter mais liberal. A sua aparente necessidade de sexualizar todas as mulheres, sua constante dificuldade de consumar as relações sexuais e o posterior arrependimento de "estar em pecado" mostram esse embate que ocorre na consciência do personagem, que vive transitando entre o divino e o profano.

A rápida ascensão de Bandini, sem ter uma produção literária consolidada, fez com que ele não se sentisse seguro para escrever, pois ficava com a sensação de que, tão rápida e fácil quanto foi a sua ascensão, a queda seria na mesma medida.
Fotografia do suburbio de Los Angeles

Somou-se a isso a desilusão do personagem com Hollywood e a não valorização ou busca pelo talento verdadeiro. O estúdio que o contrata não lhe dá projetos para trabalhar e, quando lhe dá, o resultado final é completamente diferente daquilo que ele escrevera.

Em uma época em que a indústria do entretenimento alcançava um patamar nunca antes visto, diversos jovens escritores talentosos se dirigiram até Hollywood em busca de fama e reconhecimento; contudo, esse mundo de nomes e não de seres humanos os sugou para dentro de si. Perderam-se muitos talentos em meio a esse turbilhão, restando ao leitor a expectativa referente ao futuro de Bandini.

Nota: 10.




quinta-feira, 19 de outubro de 2017

O caçador de Androides, de Philip Dick


Capa do livro O caçador de Androides de Philip Dick


O Caçador de Androides é considerado um dos melhores romances de ficção científica já escritos. Seu sucesso colocou em evidência o escritor Philip K. Dick, conhecido pela disseminação de teorias ligadas à artificialidade da nossa existência, tais como as teorias popularizadas pelo filme Matrix, nas quais inteligências superiores, artificiais ou não, são responsáveis pela produção da nossa realidade.
Fotografia de Philip Dick

Dick conseguiu com maestria, no transcorrer do livro, fazer com que o leitor sinta a atmosfera claustrofóbica de um planeta Terra destruído pela raça humana.

O filme estrelado por Harrison Ford, intitulado Blade Runner, contribuiu para a fama da história de Dick; contudo, o livro tem algumas diferenças em relação ao filme, diferenças que contribuem para dar uma voz própria ao romance.

Enredo de O caçador de Androides


Em um mundo futurista destruído após uma grande guerra chamada Terminus, o planeta Terra ficou quase inabitável devido a uma camada de poeira que tomou conta da atmosfera, provocando o fim de muitos ecossistemas.

Os seres humanos que possuíam uma posição social mais elevada migraram para outros planetas, reconstruindo suas vidas em colônias como Marte. Os que não possuíam condições financeiras para tanto foram obrigados a permanecer no que restou do planeta Terra. Com isso, a Terra foi literalmente deixada para aqueles pertencentes a uma classe social mais baixa ou aqueles com algum tipo de deficiência, seja física, provocada pela guerra, seja mental.

Os poucos animais que foram capazes de sobreviver a esse ambiente cada vez mais hostil se transformaram em artigos de luxo, sendo negociados por grandes somas. Nesse mundo, ter um animal de estimação — seja um cachorro, ovelha ou bode — significa um sinal de status, pois, no que restou da vida social, poder ter um animal de estimação é um privilégio para poucos.

Poster do filme Blade Runner


Rick Deckard

O personagem principal, Rick Deckard, é um caçador de androides a serviço da polícia de São Francisco. Os androides foram desenvolvidos para servirem aos humanos nas colônias estabelecidas em outros planetas. Conforme foram criados androides cada vez mais inteligentes, fortes e parecidos com os seres humanos, foi desenvolvido um dispositivo que limitava a vida útil de um androide para, no máximo, quatro anos; ou seja, após quatro anos, eles deixam de funcionar.

Um grupo de androides da última geração foge da colônia e vai para o planeta Terra para viver sem ser escravizado pelos humanos. Deckard é designado para caçá-los e "aposentá-los", expressão sinônimo de extermínio de androides.

Deckard não gosta de sua profissão e não se sente estimulado a praticá-la; contudo, a morte de sua ovelha e a consequente substituição por uma ovelha sintética fazem com que ele busque dinheiro para comprar um animal de verdade. Como já foi dito, ter um animal de verdade é um sinal de status, e Deckard se preocupa com o que seus vizinhos pensam dele.

Com isso, acompanhamos Deckard na caçada aos androides; contudo, conforme ele vai matando-os, questões existencialistas vão aos poucos tomando conta dele.

Os novos androides são muito parecidos com seres humanos; o principal diferenciador é a empatia. Os androides, em tese, são incapazes de sentir empatia, seja por um animal, seja por um humano, seja por outro androide. Contudo, ao realizar os testes nos androides, Deckard percebe que a nova geração consegue ser capaz, em alguns momentos, de ter sentimentos que se aproximam da empatia, podendo ser citado o fato de os androides se auxiliarem durante a fuga, trabalhando em equipe para garantir a sobrevivência de todos.

Arte do filme Blade Runner



No transcorrer do romance, conforme temos contato com os androides — inclusive com os androides que não sabem que são androides — vamos notando o quão parecidos com os humanos eles são; enquanto que, ao termos contato com o modo de vida dos humanos nessa Terra em degradação, vamos percebendo o quão artificiais eles se tornaram. Pode-se citar o aparelho, que quase todos os habitantes possuem em suas casas, responsável por criar artificialmente as mais variadas emoções, indo desde a alegria até a tristeza. Nesse mundo, os seres humanos passam cada vez mais imersos em si mesmos, tendo pouco contato interpessoal, fato que gera uma sociedade cada vez mais desumanizada, seja pelo planeta em degradação, seja pela artificialidade cada vez mais necessária para que os mesmos fujam da realidade.

Com isso, a todo o momento, diante da humanização dos androides e da desumanização dos humanos, nos perguntamos quem são os verdadeiros humanos, ou até que ponto a ciência pode ser capaz de tanto criar novas formas de vida quanto tornar a vida humana o mais artificial possível.

O Caçador de Androides é um livro fantástico, no qual , ao nos debruçarmos sobre o mesmo, diversas questões existencialistas nos acometem, gerando uma reflexão sobre o que é ser humano.

Nota: 10.