domingo, 7 de junho de 2020

Grandes Esperanças, de Charles Dickens




Capa do Livro Grandes Esperanças de Charles Dickens

Charles Dickens publicou esse romance em 1861, e foi um dos últimos romances publicados pelo autor já consagrado na época. Dickens é conhecido como um escritor capaz de discutir temas relacionados à sociedade inglesa (que vivia o fervor da industrialização) de forma leve, criando personagens marcantes e uma literatura de fácil assimilação pelo público. Ou seja, seus livros eram capazes de atrair as mais variadas camadas da sociedade. Com isso, ainda em vida, Dickens desfrutou de seu sucesso, sendo uma celebridade no Reino Unido.

Fotografia de Charles Dickens


Resenha de Grandes Esperanças


O romance Grandes Esperanças tem por protagonista Pip, um garoto pobre, que após ajudar um prisioneiro foragido, tem sua sorte mudada, tendo a chance de ascender na pirâmide social. Pip mora com sua irmã e o marido dela, seu grande amigo Joe, em uma casa simples. Ele admira muito o seu cunhado, os dois demonstram uma amizade forte e bonita. Sem grandes esperanças, devido à condição financeira, ele espera ser iniciado na profissão de ferreiro, exercida por Joe, quando crescer.

Um dia, enquanto caminhava pelo cemitério da localidade, conhece um foragido que o obriga a ajudá-lo. O menino com medo traz no dia seguinte comida e uma ferramenta para que ele possa se desvencilhar de sua corrente. Pip, devido a um misto de medo e piedade, ajuda o foragido que no dia seguinte acaba capturado.

Anos depois, Pip é convidado por uma senhora que habita um casarão na cidade a frequentar sua casa. Pip passa a visitá-la e a receber aulas de boas maneiras. Essa senhora, devido a uma decepção amorosa, vive reclusa em sua mansão, tendo por única companhia sua filha adotiva. Pip se apaixona pela menina e sonha um dia desposá-la. Após receber a visita de um advogado, Pip descobre ter um benfeitor misterioso que lhe ajuda a se transformar em um cavalheiro. Para tanto, Pip deixa a localidade pobre e vai morar em Londres.

No início da história, Pip tem por esperança ser um ferreiro, após ter sua sorte mudada, suas esperanças aumentam e ele vai aos poucos esquecendo a sua antiga vida e seus parentes. O fato de a sociedade não admitir o contato entre classes sociais faz com que Pip não se sinta à vontade junto aos seus parentes. Com isso, ele vai se afastando enquanto cresce, transformando-se em um estranho.

Capa do livro Grandes Esperanças de Charles Dickens


O amor que ele sente por Estela (filha adotiva da senhora que lhe recebia em sua mansão) faz com que ele fique cego para tudo. Ele acredita que a senhora seja a sua benfeitora e que um dia se casará com Estela, mas para tanto, ele precisa esquecer sua antiga vida e seus parentes.

Existe um abismo separando as classes sociais dominantes das classes sociais mais baixas, o que torna impossível transitar entre as duas. Pip acaba seduzido pelo luxo e comodidades da riqueza e abandona sua família e sua antiga vida, como se fosse incompatível para um homem em sua posição manter contato com os pobres. Contudo, o segredo da identidade daquele que o ajudou a ascender socialmente paira sobre Pip que, futuramente, será confrontado com essa verdade.

Um grande livro, tanto em tamanho, quanto em qualidade. Nota: 10


O continente, de Érico Veríssimo


Capa do Livro O continente de Érico Veríssimo



O romance O Continente é a primeira parte da trilogia "O Tempo e o Vento", do escritor gaúcho Érico Veríssimo. A trilogia tem por tema a vida de duas famílias gaúchas, abarcando mais de 150 anos da história do Rio Grande do Sul e do Brasil. As duas famílias principais são os Terras e os Cambarás. No primeiro romance, temos um contato maior com a família Terra.

Os Terras são agricultores obstinados e, muitas vezes, secos, que lutam para sobreviver em meio a um Rio Grande do Sul do final do século XVIII e início do XIX. Boa parte das tentativas dos Terras para progredir e ter uma vida mais confortável esbarra nas inúmeras guerras em que o Sul do Brasil se envolveu, algumas contra nossos vizinhos latino-americanos, outras entre o próprio povo brasileiro, como a Guerra dos Farrapos. Essas guerras trazem pobreza para o pequeno povoado em que a família vive, além de serem responsáveis por levar os homens da família para morrer no campo de batalha. Entre os Terras, destacam-se os personagens femininos, como Ana Terra e Bibiana (avó e neta).

Ana Terra

Ana Terra, após ter o sítio da família invadido por castelhanos e seu pai e irmão mortos, acaba indo habitar, com seu filho (fruto de um amor proibido), em Santa Fé, um pequeno povoado comandado pela família Amaral. A família Amaral é a grande antagonista tanto da família Terra quanto da família Cambará no transcorrer do romance.

Ana Terra, mesmo após as desgraças que assolaram sua vida, consegue se estabelecer em Santa Fé e criar seu filho, mostrando ser uma mulher forte com uma determinação sem fim. Como já foi dito, os homens da família Terra não são capazes de despertar grande interesse no leitor.


Pintura de casarão em Santa Fé, no Rio Grande doSul

Bibiana

A neta de Ana Terra, Bibiana, também se destaca nesse romance com a determinação e caráter da avó. É através de Bibiana que a família Terra se junta com a família Cambará.

Após chegar em Santa Fé, o capitão Rodrigo Cambará mexe com o pacato vilarejo e acaba casando com Bibiana. Sendo um homem amante de combates, festas e mulheres, Rodrigo se mostra a figura do brasileiro aventureiro, sempre em busca de aventuras e com nenhuma preocupação com o futuro. Ele surge como o primeiro grande protagonista masculino do romance. Podemos dizer que os Terras nos deram grandes protagonistas femininas e os Cambarás grandes protagonistas masculinos (o neto de Rodrigo e Bibiana, Licurgo Cambará, também se mostra um protagonista interessante na última parte do romance).
Pintura de Igreja antiga de Santa Fé no Rio Grande do Sul

Essa primeira parte da trilogia inicia-se no século XVIII e termina no final do século XIX. Somos apresentados às primeiras gerações dos Terras e Cambarás, com destaque para os personagens Ana Terra, Bibiana, capitão Rodrigo Cambará e Licurgo (Cambará). Acompanhamos, também, diversas guerras envolvendo ora disputas por territórios entre os países sul-americanos, ora disputas internas, com destaque para a tentativa do Rio Grande do Sul de ter autonomia em relação ao resto do Brasil.

Personagens marcantes 

Outros personagens, não pertencentes à família dos Terras e Cambarás, também se destacam, como o Padre Alonzo (início do romance), que dá a perspectiva dos espanhóis na época do Brasil colônia, e o personagem doutor Winter, um médico alemão, ateu, desiludido com a vida, que acaba chegando em Santa Fé e permanecendo ali pelo resto de sua vida.

Doutor Winter nos dá a perspectiva do estrangeiro, como uma perspectiva de fora sobre tudo que se passa em Santa Fé, sempre de forma sarcástica e crítica. Winter é o grande personagem intelectual do primeiro romance, sendo através dele trabalhadas algumas questões filosóficas envolvendo a questão do tempo. Contudo, essas questões são trabalhadas de forma desiludida pelo alemão.

A primeira metade de O Continente é fantástica, tornando difícil para o leitor largar o livro e ir fazer outras coisas. Já a segunda parte se arrasta um pouco, contudo também é muito boa e gera expectativas pelo que virá pela frente nos outros livros.

Livro nota 10.