terça-feira, 30 de agosto de 2016

O grande Gatsby- Scott Fitzgerald

Capa do livro O grande Gatsby- Scott Fitzgerald

Publicado pela primeira vez em 1925, O Grande Gatsby retrata a costa leste da América do Norte em plena efervescência gerada pelo progresso e pela riqueza, que seriam apenas interrompidos pela Depressão de 1929.

Nesse leste americano, com ricas famílias tradicionais juntamente com o surgimento, a todo momento, de novos-ricos, vive-se o sonho americano — sonho esse de riqueza, festas e diversões infinitas. Temos contato, durante a leitura, com toda a riqueza e glamour proporcionados pelo dinheiro. Um mundo belo e colorido, porém extremamente fútil.

"O interesse de ambos quase me comoveu, fazendo com que parecessem menos ricos e distantes; {...} quanto a Tom, o fato de ele ter uma mulher em Nova York era, na verdade, menos surpreendente do que o de haver ficado deprimido com a leitura de um livro. Algo estava fazendo com que ele mordiscasse a ponta de algumas ideias sediças, como se o seu vigor físico já não alimentasse o seu coração autoritário."

Cena do filme O grande Gatsby. Um homem de terno  olhando para a tela

"Entramos numa alta biblioteca gótica {...} — A senhora não precisa dar-se ao trabalho de verificar. Eu já o fiz. São verdadeiros. — Os livros? Fez um sinal afirmativo com a cabeça. — Absolutamente verdadeiros... com páginas e tudo. Julguei que fossem feitos de belo e durável papelão. Mas na verdade, são absolutamente reais."

Entre esse nirvana proporcionado pelo dinheiro e a poderosa metrópole americana, Nova York, temos o outro lado da moeda. Lado esse deixado de lado por não ser glamoroso ou belo. Contudo, no romance, ele não passa despercebido, porquanto os ricos, para poderem sair de um local de riqueza e chegarem a outro, são obrigados a atravessar esse território de miséria.

"Esse é um vale de cinzas — uma granja fantástica onde cinzas crescem com o trigo, convertendo-se em cumeeiras, montes e jardins grotescos; onde cinzas adquirem as formas de casas {...} homens cinzentos que se movem vagamente, quase se desfazendo em meio do ar pulverulento."

De um lado temos um mundo colorido, do outro um mundo cinza, onde homens pagam o preço pela riqueza de poucos. Neste mundo antagônico, surge Gatsby, um homem misterioso que enriqueceu do nada, sendo ao mesmo tempo reservado com respeito à sua vida privada e espalhafatoso na sua vida pública, promovendo inúmeras festas frequentadas, na sua maioria, por pessoas que nunca o viram pessoalmente. Em uma América onde o progresso criou a possibilidade de se acumularem fortunas da noite para o dia, sua figura é repleta de mistérios.

Cena do filme O grande Gatsby. Um homem e mulher dançando

"Procurem vê-lo quando ele pensa que ninguém está olhando para ele. Aposto que ele já matou alguém."

No transcorrer do romance, vamos aos poucos desvendando a figura de Gatsby, bem como o seu objetivo final. Apesar de toda a riqueza, ele não se sente satisfeito e feliz. Falta para ele reconquistar o amor de sua vida. A luta por esse amor apresenta-se comprometida, de um lado pelo fato de ela ser casada e, de outro, pelo fato de Gatsby ter passado muitos anos alimentando esse amor, fazendo com que não seja mais capaz de enxergar a mulher por trás de suas fantasias.

"Quase cinco anos. Devia ter havido momentos, mesmo naquela tarde, em que Daisy ficara muito aquém de seus sonhos — não por culpa dela, mas devido à enorme vitalidade da ilusão que ele alimentara. A ilusão tinha-se projetado além dela, além de tudo. Ele lançara-se ao seu sonho com uma paixão criadora, acrescentando-lhe incessantemente alguma coisa, enfeitando-o com todas as vistosas plumagens com que deparava."

Gatsby acabou sendo vítima de seus sonhos, sempre buscando a todo custo efetivá-los; contudo, entre o sonhar e a real efetivação dos mesmos, temos nossa imaginação, que sempre estará um passo à frente da possibilidade do real.

"Gatsby acreditou no futuro que, ano após ano, se afasta de nós. Esse futuro nos iludira, mas não importava: amanhã correremos mais depressa, estenderemos mais os braços... E, uma bela manhã... E assim prosseguiremos, botes contra a corrente, impelidos incessantemente para o passado."