quarta-feira, 23 de março de 2016

Nihonjin - Oscar Nakasato


Capa do livro Nihonjin - oscar Nakasato


De fácil leitura, utilizando-se de uma prosa simples e direta, o romance consegue prender a atenção do leitor, que acompanha as aventuras e desventuras dos japoneses em terras brasileiras. O Brasil apresentava-se para eles como um país de idioma e cultura estranhos que vivenciava, no início do século XX, a formação de um caldeirão cultural, fruto da crescente imigração estrangeira atraída pela necessidade de mão de obra nas plantações de café.

O fim da escravidão em 1888, aliado ao desenvolvimento do cultivo do café no interior paulista, gerou a crescente necessidade de mão de obra nas lavouras, sendo essa demanda preenchida por imigrantes europeus e asiáticos que desembarcavam nos portos brasileiros em busca de oportunidades.

Resenha de Nihonjin 


O romance é narrado por um neto de japoneses que busca, através do relato de seus parentes, compreender suas origens por meio da reconstrução da trajetória de sua família em terras brasileiras.

Para os japoneses que se dirigiam para as nossas terras, o Brasil aparentava ser uma terra estranha repleta de riquezas, necessitando apenas de pessoas dispostas a trabalhar com afinco. Muitos dos que vieram acreditavam que permaneceriam apenas alguns anos em terras brasileiras, tempo suficiente para juntarem um determinado capital que seria empregado em alguma atividade lucrativa no Japão:

Hideo prosseguiu falando, agora sobre os seus projetos pessoais: teria uma loja de utensílios domésticos em Tóquio ou Osaka”.

A expectativa de adquirir capital, demonstrada pelos imigrantes, era baseada na confiança que depositavam na capacidade de decisão de seu imperador, porquanto ele incentivou a imigração de japoneses para o Brasil, afirmando ser possível ganhar dinheiro rapidamente no país do "ouro verde". Contudo, a realidade encontrada pelos imigrantes fez com que muitos se desiludissem.

O imperador do Japão enganava os agricultores pobres e os desempregados da cidade, dizendo que deveriam imigrar porque ganhariam dinheiro rapidamente no Brasil. Mas que, na verdade, era um projeto para expulsar a população pobre, pois havia muitos excedentes no país”.

Ao contrário do que esperavam, os japoneses acabaram sendo explorados nas fazendas de café, e o pouco que ganhavam era consumido nos armazéns das fazendas, que vendiam os alimentos a preços abusivos. Após o sucesso da exportação do café brasileiro, a depressão americana de 1929 fez com que os barões do café brasileiros fossem obrigados a reinvestir o capital gerado pelo café em atividades industriais na cidade de São Paulo, fato que gerou um êxodo da população do campo para a cidade. Com isso, surgiram os primeiros bairros operários de São Paulo, entre eles a Liberdade, sendo a maior comunidade japonesa no Brasil.

Apesar de todas as dificuldades, fica evidente a capacidade de perseverança e adaptação dos imigrantes japoneses às diversas reviravoltas econômicas ocorridas no final do século XIX e início do século XX. A crise econômica japonesa impulsionou a imigração para o Brasil; posteriormente, a crise do café impulsionou o êxodo do campo para a cidade. Apesar de todas essas mudanças, os imigrantes japoneses demonstraram grande capacidade de adaptação e um forte sentimento de união, buscando ao máximo preservar sua cultura.

Pode-se citar a repulsa à miscigenação como um dos fatores determinantes para a manutenção da cultura japonesa em terras brasileiras. Não era aceitável o casamento com pessoas de fora da comunidade, sendo o ato considerado uma ofensa sem perdão:

Foto de Imigrantes japoneses trabalhando em uma fazenda

“lamentava que a caçula de Oshiosun estivesse namorando um gaijim, que era vergonha para a família, que se fosse sua filha não permitiria, que se houvesse teimosia a expulsaria de casa, e então, seria como se ela tivesse morrido”.

Contudo, o surgimento de novas gerações, nascidas em solo brasileiro sem nunca terem estado no Japão, fez com que parte dessa cultura japonesa fosse sendo gradativamente modificada. Muitos jovens já incorporavam os costumes da cultura brasileira:

uma nova vida, que não era a vida japonesa nem a vida brasileira”.

Esse hibridismo cultural gerou conflitos dentro da comunidade japonesa, conflitos que resultaram em mortes e foram determinantes para a desunião de diversas famílias. O romance é finalizado com a decisão do narrador de migrar para o Japão. Seu avô, que no início do século havia realizado a trajetória inversa, demonstrou insatisfação com a decisão de seu neto, pois ele conhecia a dificuldade de se adaptar a uma nova cultura.

Contudo, ao contrário de seu avô, o rapaz não decidiu migrar somente devido a questões econômicas; ele buscava encontrar no Japão suas origens, descobrir sua identidade, acreditando ser possível encontrá-la no Japão:

Disse-lhe que o ato era ida, mas tinha para mim um sentido de retorno”

A busca pela sua identidade o motivou a tentar reconstruir a trajetória de seus ancestrais; contudo, isso não foi suficiente. Sua busca o levou a fazer o caminho inverso de seus antepassados, buscando encontrar no Japão as peças que faltavam para completar o quebra-cabeça de sua vida.